Continuamos com nossa série “Mês Halloween” e desta vez vou falar sobre “Peeping Tom/A Tortura do Medo”:
Sem dúvida que 1960 foi um ano de numerosas e importantes mudanças na história do cinema, especialmente no gênero do terror. Em vésperas do anúncio do fim do Production Code (Código de Produção), idéias novas e diferentes começaram a ser exploradas dentro das convenções do gênero, tais como a introdução de temas psicológicos complexos e conetados à sexualidade. Inaugurava-se o que é agora conhecido como "horror psicológico" com filmes como “Horrors of the Black Museum" de 1959 e a obra-prima de Hitchcock, "Psycho" (1960) que davam uma face humana aos monstros de filmes de terror (quando previamente o mal tinha principalmente uma origem sobrenatural). Outro desses filmes significantes que ajudaram a mudar o gênero nos anos sessenta é sem dúvida “Peeping Tom” de Michael Powell, um conto mórbido de terror sobre voyeurismo, que explora precisamente de forma magistral o horror psicológico.
"Peeping Tom" é a história de Mark Lewis (Karlheinz Böhm), um jovem que trabalha em um estúdio de cinema e que sonha se tornar um diretor. Um homem tímido e só, Lewis não é muito social. Em segredo, ele trabalha igualmente como fotógrafo tirando fotos pornográficas de mulheres. Porém, este homem tem ainda outro segredo: Lewis é um serial killer que gosta de se filmar enquanto mata suas jovens vítimas.
Fazendo uso de uma imagem colorida (por Otto Heller) notavelmente bela e contando a história de uma forma hábil do ponto de vista do criminoso, o diretor Michael Powell concebeu "Peeping Tom" como uma exposição bizarra do voyeur que, segundo ele, todos nós temos dentro de nós, porque sentimos um indescritível prazer quando ficamos assistindo o que os outros fazem. Não é então de estranhar que o personagem principal seja ele próprio um cineasta, para o qual o conceito de filmar uma pessoa fica cada vez mais ligado ao de matar uma pessoa, sendo que a filmadora se transforma em uma entidade agressiva, quase fisicamente violenta que invade e rouba a essência de vida do indivíduo filmado. Powell consegue criar uma ambiência aterradora que faz com que o espectador quase sinta a tensão que enche a mente de Mark a todo passo.
Um dos filmes mais interessantes (e perturbadores) sobre serial killers, "Peeping Tom" é também um dos melhores. Não se pode deixar de fazer algumas comparações com "Psycho", embora se tratando de um filme com menos psicologia e muito mais coração. Mas provavelmente é esta humanidade enorme que faz com que o filme nos perturbe tanto, no final de contas. Sendo um influente clássico do terror, tem, no entanto, como obra-prima que é, caído em esquecimento nos últimos anos, ao contrário de “Psycho”. Não se tratando de um o filme de terror típico, muito complexo e sombrio, foi um desastre de bilheteira e destruiu a carreira de Powell. Definitivamente, não era o que as pessoas esperavam de ver na altura de um diretor, que durante os anos cinqüenta foi o menino querido do cinema britânico, conhecido como cineasta de filmes de aventura e de romance.
Classificação: 9 de 10 pontos
0 comentários:
Enviar um comentário