01/02/2014

A Caminho dos Óscares: Seven Women (1966) de John Ford

Como é habitual, no mês que antecede os Oscares, nada melhor do que relembrar clássicos do cinema, protagonizados por atores, diretores ou produtores que já foram premiados com a famosa estatueta. John Ford, a minha escolha de hoje, conseguiu um feito até hoje único: venceu por quatro vezes o Oscar pela Melhor Direção.

 
Largamente considerado um dos maiores mestres na história do cinema, o norte-americano John Ford deixou um legado notavelmente rico durante sua carreira cinematográfica longa e prolífica. Ford é hoje mais conhecido como diretor de Westerns, gênero esse para o qual ele contribuiu com várias obras-primas como "Stagecoach", "My Darling Clementine" ou "The Searchers", só para nomear algumas. No entanto, a obra de Ford vai muito para lá dos faroestes, sendo esses uma componente, embora importante, de um autor deveras multifacetado, que dirigia tanto comédias como dramas com a mesma desenvoltura. O exemplo perfeito da mestria de Ford é “7 Women / Sete Mulheres”, o filme que fecha a carreira de John Ford, sete anos antes da sua morte aos 79 anos.
 
À primeira vista, parece estranho que um diretor como John Ford, o qual ajudou a criar a iconografia do oeste selvagem (um mundo basicamente masculino), nos presenteie com esta obra dominada quase completamente por mulheres. Porém, "7 Women" contém no fundo todos os elementos que fizeram da cinematografia de Ford algo inconfundível e lhe valeram o merecido lugar de destaque na história do cinema.
 
O filme se desenrola em uma missão cristã na China dos anos 1930 e lida com o conflito de personalidades díspares, personalidades que se vêem forçadas a estar juntas num determinado espaço pelas circunstâncias. Ora, temos aqui algo de muito Fordiano: a criação de uma situação fora de comum e como os diversos caracteres se adaptam a ela serviam quase sempre como ponto de partida dos roteiros do diretor lendário.
 
Lendária também era a capacidade de Ford de escolher bem e de dirigir bem seus atores. Em 7 Women, Anne Bancroft tem uma atuação fora de série, conseguindo captar toda a complexidade do personagem, a  Dr. Cartwright, uma mulher liberal, independente e enérgica, que chega à missão e abala a rotina da mesma.  A contrapor a Bancroft temos Margaret Leighton no papel de Ms. Agatha Andrews, a dedicada gerente da missão, uma pessoa demasiado conservadora e rígida. Leighton apresenta um desempenho inteligente, sutil, evitando criar uma caricatura do personagem. Ao conflito pessoal é acrescentada a ambigüidade religiosa, e Ford serve sua crítica à hipocrisia e arrogância de certa moralidade doutrinal de uma forma bastante afastada e fria, mesmo sendo ele próprio católico.
 
Uma das falhas que talvez se possa apontar a "7 Women" , foi a opção de Ford em filmar todo o longa em apenas um set. Mas as ditas falhas são rapidamente anuladas por todas as virtudes desta obra que, muitas vezes, é injustamente esquecida quando se fala da filmografia de John Ford. Mas se analisarmos com cuidado este trabalho, chegamos à conclusão que "7 Women", na verdade, é uma espécie de resumo da totalidade da obra deste grande diretor. Roteiro inteligente, uma fotografia de uma grande beleza visual, atores bem dirigidos e com desempenhos soberbos, "7 Women" encerra magistralmente a carreira de Ford.
 
Classificação: 10 de 10 pontos.
 

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